Comércio Exterior – Especulações para 2021

Perfil e desafios do Gestor de Comércio Exterior

Normalmente, tratamos sobre números e áreas que tendem a crescer em relação ao ano vindouro. Entretanto, o artigo é um pouco diferente desta vez. Se algo que o Setor Privado não gosta é a palavra “especulações”.

Mas depois do que ocorreu durante 2020, nem ousamos mencionar a palavra “previsão”, pois, com tantas incertezas ainda pairando, é bem provável que quebremos bastante a cara (perdoe-nos pela expressão!).

Talvez, o mais importante é sermos resilientes e anti-frágil, estando preparados para possíveis desvios de rotas e com “planos de contingência” para serem acionados a qualquer momento.

Selecionamos para discutir apenas alguns tópicos relacionados ao comércio exterior. E nem vamos adjetivar com “importantes tópicos”, porque o que era importante na virada de 2019 para 2020, deixou de ser importante ao passar dos meses. Um exemplo disso é o primeiro tópico, esquecido dos noticiários devido à pandemia.

Brexit

A saída do Reino Unido da União Europeia entrou em vigor provisoriamente dia 1º de janeiro deste ano. Ainda não é um documento definitivo, mas ficará vigente durante o mês de fevereiro até que seja aprovado e fiscalizado pelo Parlamento Europeu.

Caso a separação seja definitiva, União Europeia e Reino Unido caminham para um rompimento brutal, sem acordos comerciais e aduaneiros, acarretando em imposição de tarifas sobre mercadorias, entre outras barreiras comerciais.

O que isso significa na prática? Do dia para a noite, as empresas britânicas precisarão estar aptas a negociar com os europeus, e vice-versa, da mesma maneira que os brasileiros transacionam com ambos. Importações e exportações com entraves burocráticos.

O que hoje é, de modo bem simplista, emitir uma “nota fiscal” e enviar a carga para o outro lado do Canal da Mancha, tornar-se-á um complicado processo de comércio internacional.

Para o Brasil pode ser uma oportunidade? Sim, pode. Mas não devemos nos animar tanto, pois uma confusão generalizada na União Europeia, que é um valioso parceiro comercial do Mercosul, e as prováveis falhas britânicas na implementação dos seus novos processos de comércio exterior tendem a ocasionar uma diminuição no fluxo internacional de cargas para todos.

Recordem-se que o mundo é integrado e globalizado e os poderes de compra dos europeus e dos britânicos podem ser impactados negativamente devido à ausência da facilidade de “fazer negócios” entre os mesmos, gerando efeitos adversos nas exportações brasileiras.

Novo presidente dos EUA

A eleição de Joe Biden altera algumas peças no tabuleiro político internacional. Um ponto a ser observado com bastante cuidado é o Acordo Transpacífico (Trans-Pacific Partnership, TPP). Para quem não se lembra, Donald Trump, durante seu mandato, retirou os EUA das negociações do mesmo. Mas por que Biden resgataria o TPP? Ele foi justamente um dos líderes na negociação desse acordo enquanto era vice-presidente de Barack Obama.

Esse acordo de livre-comércio é de importância estratégica para Biden com o fim de contrapor a influência chinesa na região do Pacífico.

Não existem os menores indícios de que a nova administração estadunidense seja menos dura com a China em negociações comerciais (a diferença estará no tom belicoso, marca registrada da administração Trump). Dessa maneira, soa bastante provável que a administração Biden inicie conversas para “voltar” ao TPP.

Caso isso venha a ocorrer, o Mercosul estará numa posição de desvantagem comercial quanto aos doze países que atualmente integram o acordo. Com destaque a Austrália, Chile, Japão e Vietnã, tais países poderão vender uma parcela considerável de seus produtos a um menor custo aos Estados Unidos, nosso segundo maior parceiro comercial.

Acordo de livre-comércio regional liderado pela China

Ingênuos são os que imaginaram que a China apenas assistiria de braços cruzados as negociações do TPP, liderado pelos EUA na época.

O novo acordo, chamado de Parceria Econômica Regional Abrangente (Regional Comprehensive Economic Partnership, RCEP), foi assinado no fim de 2020 e reúne quinze nações, entre elas Coreia do Sul, Indonésia e Singapura, além de Austrália, Japão e Vietnã, três que também estão no TPP.

O mais inovador do RCEP é a simplicidade do acordo, visto que, conforme matéria publicada na BBC, “os componentes de qualquer país membro serão tratados da mesma forma, o que poderia dar às empresas nos países do RCEP um incentivo para fazer parceria com fornecedores da nova aliança regional”.

A partir de 2021, os efeitos nas exportações brasileiras para os países membros do RCEP de produtos que não sejam commodities podem ser bastante perversos. Para as empresas brasileiras, uma das possíveis estratégias para manter a competitividade é o estabelecimento de parcerias para que parte da produção, hoje no Brasil, seja realizada em um país-membro do RCEP.

Efeitos da pandemia

Não queremos ser pessimistas, mas conforme alguns analistas financeiros e economistas têm apontado: 2021 não será tão alentador quanto vários estão imaginando. A euforia do desenvolvimento das vacinas, talvez, passe em breve.

Uma expectativa é que, no primeiro semestre, os grupos de risco sejam vacinados. Entretanto, conforme as produções da vacina avancem, desafios logísticos (o que inclui a própria produção) surgirão.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) espera que apenas ao final de 2022 seja atingida a meta de 70% de vacinação da população mundial.

Ok… mas e o que isso tem relação com comércio exterior? Sem uma vacinação ampla, podemos esperar ainda algumas ondas de infecções e, consequentemente, impactos na economia mundial. Portanto, a recuperação econômica pode não ser tão rápida quanto todos estejamos esperando e, dessa maneira, o comércio exterior, de um modo generalizado, ainda sofra impactos severos.

Comércio eletrônico (e-commerce)

Esse é um dos únicos temas que podemos fazer previsões. Com a pandemia, desde as micro às grandes empresas, escancarou-se a necessidade de ser mais digital, de estar integrado às plataformas de comércio eletrônico, de estar preparado para vendas internacionais por meios mais digitais.

Consequentemente, o e-commerce, em 2020, cresceu assombrosamente, mesmo com a crise econômica mundial.

E, parece-nos, que é um caminho sem volta, alinhado com a ideia de transformação digital. Antes da pandemia, a maior parte dos especialistas brasileiros em comércio internacional ignorariam esse tópico.

Entretanto, conforme análises da UNCTAD vêm apontando, o comércio eletrônico B2B (business-to-business) vem crescendo, nos últimos 5 anos, a um ritmo anual acima de 10%.

Os números devem ser ainda mais fortes no ano de 2020. Dessa maneira, é bastante provável que até mesmo as grandes empresas comecem a traçar estratégias cuidadosas para realizar exportações e importações através do e-commerce.

O que podemos afirmar é que o Brasil, para ser mais competitivo a nível internacional, necessitará traçar planos mais ambiciosos, seja a nível político, como acordos comerciais, seja a nível técnico, como a aceleração da implementação do Portal Único.

De qualquer maneira, apenas esperamos que, ao final de 2021, possamos escrever um artigo com uma boa retrospectiva e, então, voltar a realizar “previsões” para 2022!

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